O hype é tão alto que não podemos apreciar a magia. (Drew Breunig)
Toda mudança de paradigma é acompanhada de "mortos e feridos" e, por vezes, são a razão e o senso comum que morrem ou são peremptoriamente negados. Se você não está fazendo um retiro espiritual no Tibet, sabe que um dos grandes debates atuais é sobre o uso e a aplicação de IA cada vez mais intensos na vida cotidiana. A inteligência é um tema que afeta a qualquer ser humano e por isso a inteligência artificial têm despertado tanto interesse e todos acabam se posicionando de algum maneira em relação a este assunto. Este artigo pretende dar os seus dois centavos de contribuição neste tema tão atual e tão controverso, em nome de uma postura mais sóbria e menos distópica.
A primeira questão é filosófica e conceitual: "Será que a inteligência pode ser artificial?". Sem se aprofundar em questões ontológicas e metafísicas, o que exigiria um esforço muito maior, a pergunta é sobre o conceito de inteligência e estamos entrando numa seara onde há muito controvérsia e pouca unanimidade. Se inteligência for a capacidade de um indivíduo para entender, raciocinar, resolver problemas e se adaptar ao ambiente, sim, a inteligência pode ser artificial. Abundantes exemplos confirmam essa hipótese. Mas se inteligência for a capacidade de criar uma solução melhor para uma determinada questão, algo que exija criatividade, inspiração, intuição e algo mais que não sabemos denominar, a resposta seria não, a inteligência não pode ser artificial. Ilustro com um ótimo exemplo que encontrei em uma palestra sobre o assunto: uma IA pode gerar um sistema completo de gerenciamento de um hotel, apoiado por um site com transações e reservas online mas nunca vai ser capaz de criar um AriBNB.
Há muito para ser dito sobre esta questão filosófica e existencial, mas vale a pena trazer para a discussão o discurso usado para falar de IA atualmente. O quadro abaixo, tirado do mesmo artigo do autor que escreveu a epígrafe deste post, é um bom ponto de partida:

Em uma época de click bait, da construção de narrativas em nome de uma ideia particular e uma imprensa cada vez mais comprometida em vender uma ideia ao invés de apenas comunicar fatos, o resultado não poderia ser muito diferente: distopias, sensacionalismo e falta de isenção. Estes atributos descrevem a segunda coluna do quadro de Drew Breunig, uma IA exagerada. Quem se deu o trabalho de investigar mais minuciosamente os princípios por trás da inteligênca artificial deve ter concluído que os resultados impressiontes que estão sendo divulgados continuamente são fruto da capacidade cada vez maior do computador de reconhecer padrões. Neste quesito, o ser humano foi amplamente ultrapassado pelas máquinas. A primeira coluna do quadro descreve um outro cenário, menos atrativo mas mais realista.
O tema não se extingue, muito pelo contrário, estamos apenas na iminência de muitas trasnformações mas é sempre bom reforçar os conceitos basilares e humanos, pra não nos perdermos em ficção científica barata e argumentos superficiais.